Terça-feira, 16 de Outubro de 2012

Um país destroçado

Números recentes do INE, no âmbito do Procedimento dos Défices Excessivos, apontam para que o PIB nominal caia de €170.909M em 2011 para €166.341M em 2012 (-2,7%). E a inflação actual anda pelos 3%. Pressupondo que o deflator implícito no produto seja idêntico à inflação, e que esta se mantenha até final do ano, a queda do PIB em 2012 vai atingir os 5,5%. Consultei estatísticas até aos últimos 40 anos e não encontrei uma recessão assim.

  

 Em 2013 o défice orçamental vai cair 0,5 pontos para 4,5% do PIB, coisa de somenos. Mas o Governo respondeu com o plano de austeridade mais violento de que tenho memória, como se não existisse amanhã. Quando, em 2014, tivermos de reduzir 2 pontos para 2,5% do PIB, quatro vezes mais, que resposta terá? Enfim, os disparates são tantos, e de tal ordem, que eu tenho para mim que o Governo enlouqueceu. E é óbvio que a recessão vai prosseguir.

 

Em Setembro de 2013 está previsto o regresso ao mercado primário para nos financiarmos. Estaremos então com uma dívida pública da ordem dos €200.000M. Mas, com a economia de pantanas, as populações revoltadas e as agências de ‘rating’ a classificarem-nos como “lixo”, alguém acredita num cenário destes? Alguns ingénuos ainda olharam para o BCE como uma saída possível no mercado secundário. Mas Mario Draghi foi claríssimo: ou reconquistamos o “acesso total” ao primário ou não há nada a fazer.

 

A gestão de uma dívida envolve dois pagamentos: o capital e os juros. Sobre o capital, estamos conversados. Mas vale a pena reflectir um pouco sobre os juros. Não conheço a estrutura da nossa dívida, e muito menos a taxa de juro implícita. Mas admitamos que é da ordem dos 5% ao ano: com uma dívida de €200.000M, os juros sobem para os €10.000M anuais. Ou seja, o endividamento é de tal ordem que não nos deixa espaço para excedentes orçamentais. Lamento dizê-lo, mas nem os juros vamos conseguir pagar.

 

Com isto chegamos ao actual modelo de gestão. Parece evidente que o modelo da ‘troika’ – massacrar primeiro para aliviar depois – é de uma estupidez sem limites. Mas também é verdade que o Governo achou óptimo, propondo-se mesmo ir além do que a própria ‘troika’ exigia. Nunca ocorreu a estas cabecinhas tontas o que, nesta fase, seria realmente prioritário: investir, empregar, crescer. O resultado está aí, nesta monstruosidade social. A imagem que me ocorre é a de um país destroçado gerido por um bando de loucos.

 

Por amor de Deus, parem!

 

d.amaral@netcabo.pt

publicado por ooraculo às 15:43
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