Sexta-feira, 28 de Janeiro de 2011

O passo seguinte

Admitamos que Portugal vai seguir o modelo irlandês. Sócrates continuará a dizer que está tudo bem, não precisamos de ajuda, o FMI pode esperar. E um dia destes, pela tardinha, as agências noticiosas dirão o óbvio: a ajuda já foi pedida. Se for coerente, o primeiro-ministro demite-se; se insistir na teimosia, será primeiro vexado e a seguir demitido. Em qualquer dos cenários, o FMI terá aterrado na Portela. Pergunta que todos fazem: e depois?

Se dispuséssemos de moeda própria, seria tudo muito simples. Faríamos desvalorizações sucessivas, e o efeito conjugado da ilusão monetária com o encarecimento das importações levaria ao ajustamento pretendido. Mas a nossa moeda é o euro. E o ajustamento terá de realizar-se de outra forma. Alvos principais: a dívida pública, interna e externa; e a dívida externa, pública e privada. Ambas vão ser cilindradas até ao limite.

A dívida pública ronda os €140 mil milhões, 83% do PIB, dos quais cerca de dois terços vieram do estrangeiro. E só há duas maneiras de a controlar: aumentando as receitas ou diminuindo as despesas. A obsessão vai ser tudo o que seja supérfluo. Mas isto não chega, dado o peso que têm no orçamento os salários e outras prestações sociais. Preparem-se para o pior: mais aumentos de impostos e cortes acrescidos nos salários e nas pensões.

A dívida externa atinge os €190 mil milhões, dividida pelos sectores público e privado em partes sensivelmente iguais. E a sua redução passa por uma aposta forte nas exportações, que dependem dos custos de fabrico. Formas de os reduzir: reorganizações internas, que cheiram a música celestial; benefícios fiscais, que colidem com o orçamento; e cortes nos salários, que toda a gente rejeita. Na hora da verdade, vamos sacrificar os salários.

Enquanto isto, que perspectivas para a economia global? O cenário descrito aponta para dois movimentos de sinal contrário: um, recessivo, ligado à contracção da procura interna; o outro, expansionista, ligado ao dinamismo das exportações. O saldo final deverá ser positivo - com o nível de vida no fundo do poço. Moral da história: o FMI nem precisa de vir, porque já cá está. Veio no dia em que o Governo e o PSD aprovaram o Orçamento-2011.

E veio para ficar.

 

DÍVIDAS SIAMESAS

A primeira mata...

(Dívida pública, % do PIB)

 ...a segunda esfola

(Dívida externa, % do PIB)


A dívida pública é hoje da ordem dos €140 mil milhões, 83% do PIB, dos quais mais de dois terços são dívida externa. E a dívida externa total, da ordem dos 113% do PIB, andará próxima dos €190 mil milhões, desdobrada em partes sensivelmente iguais entre pública e privada. São valores incomportáveis, que precisam de ser corrigidos, e a sua correcção vai implicar enormíssimos sacrifícios sociais. O FMI dá uma ajuda...

Fonte: Banco de Portugal.
____

Daniel Amaral, Economista
d.amaral@netcabo.pt


Comentários

Para Tristão Vaz , | 28/01/11 16:54
O Sr. começa o seu comentário por dizer que não é de boa ética comentar um comentário, mas depois permite-se a aleivosia de comentar um comentário de outra pessoa. Julga-se um Ser Superior? Ainda por cima faz um comentário de uma pobreza intelectual insuperável, além de extremamente preconceituoso.
Meu caro, os analfabetos jamais poderiam comentar neste site porque não sabem ler nem escrever, mas há aí muito doutorado em Economia a comentar com menos inteligência e cultura que muitos analfabetos deste país.

Tristão Vaz , Cotovia - Sesimbra | 28/01/11 14:45
Aqui, o comentador Viriato, diz: ..."eu ão escreveria melhor, porque me faltam os termos..." Não é de boa ética comentar um comentário. Todavia, já será de boa ética aperfeiçoar ou contribuir para aperfeiçoar ou rectificar as diletâncias. Pois bem, o amigo Viriato é economista? Se sim, já não está quem falou. Se não, então, com o seu discurso, não se faça nivelar (desde um ponto de vista técnico, de conhecimentos, de experiência,de habilitação literária, em suma: de competência), com o Economista Daniel Amaral. Em matéria especializada, só deveriam comentar pessoas com título bastante, ou seja, que fossem também minimamente especializadas. O que acontece, é que, no nosso país, todos são engenheiros, médicos, advogados, arquitectos, enfermeiros, professores. técnicos de contas, etc...mesmo que só tenham a quarta classe, ou até, sendo analfabetos.

700 000 desempregados e 700 000 Portugueses forçados a emigrar só nos últimos anos , | 28/01/11 14:40
Mas entretanto o ruinoso TGV espanholito e sucateiro "de las castañuelas" vai para a frente clandestinamente, sem visto do Tribunal de Contas e à revelia da vontade dos Portugueses.
Sócrates fede.

jose , fx | 28/01/11 12:19
Ao suspender o mandato, António Capucho manterá algumas das regalias de que dispunha enquanto presidente da autarquia.O Jose Manuel Coelho vai dar cabo dos gatunos e ladrões deste país! Varas, Penedos, Dias Loureiro, Oliveira e Costa, Alberto João, Almeida Santos, Angelo Correia, Marques Mendes, Passos Coelho, Lellos, Vieira da Silva, Luis Amado, Jorge Coelho , Carrilhos, Portas, Ferreira do Amaral etc etc

Francfer , | 28/01/11 11:58
Ò América #, se a estupidez pagasse imposto eras as <falecidas Torres gemeas...

Realista , Porto | 28/01/11 11:20
Desta vez não gosto do artigo. Repete ideias antigas - chover no molhado - sem apontar saídas ou ideias novas. Por exemplo. 1- Claro que Portugal vai precisar de ajuda. Mas não nos moldes dos bail-outs à Grecia e à Irlanda. Hoje já é quase consensual na UE que essa não é a solução. Nem a Grecia e a Irlanda melhoraram nem o contagio na zona euro terminou. Começam a fazer caminho a ideia dos euro-bonds e do aumento e flexibilização do FEEF. Portugal tem que aguentar mais uns meses e esperar por novas oportunidades. 2- Claro que os PEC e o OE 2011 visam atacar apenas o aspecto financeiro. E nós precisamos (sobretudo) de resolver o problema económico, do crescimento e do defice comercial. E é aqui que eu gostava de ver o autor opinar. Eis alguns exemplos. 21- Toda a gente fala no aumento das exportações. E a substituição (redução) das importações? 2/3 do peixe que consumimos é importado. Com a costa que temos. Isto não é uma vergonha? Temos que olhar de novo para a agricultura. Antigamente dava-se como desculpa o terreno e o parcelamentio da propriedade. Hoje isso não é obstaculo. Temos que recuperar a ferrovia, para evitar o petroleo, etc. 22- Toda a gente fala na produção de bens transaccionaveis e exportaveis. Eu penso que para crescer temos sobretudo que reduzir o imenso desemprego, ainda que seja com texteis e calçado ou com TGVs e aeroportos. 23Os neolibs passam a vida a proclamar que quem cria riqueza são as empresas. Isso é válido para os EUA, país com 320 milhoes de pessoas e uma forte tradição de empreendedorismo. Aqui o Estado tem que ir à frente. E não ha aqui qq incompatibilidade com o controle do defice. Recorram a parcerias ou aos privados, mas com contratos bem estudados. PRECISAMOS DE IDEIAS NOVAS.

LOPES CARLOS , Bélgica | 28/01/11 08:00
1. Artigo interessante e corajoso dum HOMEM LUCIDO E SÉRIO.
2. O caminho está traçado desde 2/2/2006. E TODOS sabiam , porque todos estiveram lá.
3. O custo diário dos juros vencidos e o valor médio semanal dos novos empréstimos ( em português técnico : novas vendas de divida) é cada vêz mais dificil de suportar num quadro nacional de fraco crescimento do PIB e de evidente diminuição dos rendimentos disponiveis.
4. Acresce que a profunda diferença de rendimentos per capita entre os mais ricos e os mais pobres não só é socialmente injusta como também é fonte de quebra do crescimento economico. O mesmo se passa noutros Estados, como a França. O novo paradigma também passará por aqui.
5. O muro aproxima-se . Quero ver as doutas explicações adiantadas dentro de algum tempo pelos "optimistas" , pelos "homens de sucesso" e pelos adeptos do "PORTUGALSEMPREEMFESTA".

Viriato , | 28/01/11 07:39
Este Daniel Amaral não há dúvidas que é um homem esclarecido e acima de tudo consegue explanar bem as ideias. Bem haja. Eu não diria melhor, pois por vezes faltam-me os termos e palavras certas.

"Ai, eu quero, eu quero, eu quero um TGV espanholito "de las castañuelas" a 5 biliões de euros" , ("engenheiro" da treta Sócrates) | 28/01/11 02:57
Mas entretanto, no contrato sucateiro do TGV espanholito ninguém toca.
Dessa "obra" que avança clandestinamente, ninguém fala.
Pu.lhas socráticos.
País acabado.

 
publicado por ooraculo às 18:28
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